terça-feira, 8 de dezembro de 2009

QUASE TODO MUNDO

A afirmação de que Deus tem um coração que abraça o mundo não pode ser confundida com a afirmação de que Deus é amigo de todo mundo. O poeta bíblico diz que somente as pessoas que temem a Deus desfrutam de sua intimidade (Salmo 25.14). Jesus deixou claro que existe gente do lado de fora das fronteiras do reino de Deus (Mateus 18.3; Marcos 4.11), e que somente alguns poucos podem desfrutar de sua amizade (João 3.3-8; 15.14,15). Jesus não acreditava em todos os que acreditavam nEle (João 2.23-25). Isso significa que existe uma distância entre a ação amorosa e graciosa de Deus que “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5.45) e a abertura de Deus para uma relação de amizade e intimidade com as pessoas, pois não são poucos os que vivem em inimizade contra Deus (1João 2.15; Tiago 4.4) e são inimigos da cruz de Cristo (Filipenses 3.18,19).

Está claro, portanto, que os seguidores de Jesus devemos o respeito à dignidade intrínseca a todo ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, o que nos exige a atitude amorosa, generosa, misericordiosa e solidária, inclusive em relação aos que “não são contados entre os nossos”, pois Jesus ensinou: “ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus (Mateus 5.43,44). Mas isso não implica a ingênua desconsideração ao fato de que somos ovelhas em meio aos lobos (Lucas 10.3), imersos num mundo que nos odeia assim como odiou Jesus Cristo, nosso Senhor (João 15.18-25).

O batismo nas águas e a celebração da ceia em memória de Jesus Cristo servem como atos dramáticos por meio dos quais uma pessoa se apresenta fazendo afirmações categóricas e assumindo compromissos públicos. No batismo, testemunha algo como: “Houve uma mudança em mim; abandonei minha inimizade contra Deus, abri meu coração ao seu amor e me submeti absolutamente à sua vontade. Eu nasci de novo”. Na ceia memorial, ao repartir o pão e o vinho na comunidade, afirma: “Meu coração e minha consciência continuam comprometidos com o sonho de fraternidade e amor da tradição ensinada por Jesus. Reafirmo meu compromisso de submissão a Jesus Cristo, Senhor da minha vida, comunhão com sua igreja, e engajamento na missão de sinalizar o reino de Deus todo tempo, em todo lugar, através de tudo o que faço”.

Brian McLaren observa que a afirmação de Jesus “quem não é contra vocês é a favor de vocês” argumenta contra as exclusões mesquinhas e o espírito exclusivista e sectário, da mesma forma que a afirmação “aquele que não está comigo é contra mim” argumenta contra uma inclusão ingênua. “O propósito do Reino de Deus”, diz ele, “é o de ajuntar, de incluir, de acolher todos aqueles que estiverem desejando (crianças, prostitutas, coletores de impostos) ser reconciliados com Deus e uns aos outros. No entanto, se o Reino incluísse pessoas que rejeitassem esse propósito, iria ficar dividido contra si mesmo, e seria arruinado”. Conclui afirmando que o reino de Deus está acessível a todos, mas “para que seja verdadeiramente inclusivo, o Reino precisa excluir os que são exclusivistas; para que seja verdadeiramente reconciliador, o reino não pode se reconciliar com aqueles que rejeitam a reconciliação; para que alcance seu propósito de unir as pessoas, não pode unir aqueles que espalham. O Reino de Deus tem um propósito, e esse propósito não se ajusta ao gosto de cada um”. (Ver A mensagem secreta de Jesus, de Brian McLaren, Thomas Nelson Brasil, Capítulo 18: As fronteiras do Reino).

Deus tem um coração que abraça o mundo. Mas é fato que nem todo o mundo deseja seu abraço.
2009 | Ed René Kivitz

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