Amizade
Podemos começar dizendo que o Deus da Bíblia é uma eterna amizade de três – o Pai, o Filho e o Espírito Santo -, que deseja que nos tornemos Seus amigos e que vivamos como amigos entre nós. Esse é o grande mandamento, sob o qual se sujeita toda a revelação de Deus: amar a Deus, a si próprio e ao seu semelhante. Isso é estabelecer vínculos de afeto, amizade e intimidade com Deus, consigo mesmo e com o próximo.
Amizade é o grande tema das Escrituras, e não posso mais dizer que amo a Deus, mas não tenho amigos, ando errante e solitário sem que ninguém me compreenda, sem que eu compreenda meus semelhantes.
Amor não é um sentimento vago e subjetivo, mas se concretiza nas amizades. A comunhão é, portanto, a amizade humana consagrada pela presença do Senhor. E assim nosso Senhor Jesus Cristo nos dá o exemplo, enfatizando Sua amizade com os 12 apóstolos. Ele mesmo nos diz: “Já não vos chamo de servos, mas de amigos.”.
Trazemos a Imago Dei, pois fomos criados à imagem e semelhança de Deus e, assim, somos seres relacionais e na comunhão encontramos a nossa verdadeira vocação humana. Com a Trindade aprendemos a conviver com a tensão criativa do eu e tu, aprendendo o respeito, a alteridade, a cooperação e solidariedade, que se torna possível quando escolhemos amar e abrimos mão do poder e do controle na relação.
Jesus disse que pelo amor que temos uns pelos outros seríamos conhecidos como Seus discípulos. Assim, podemos dizer que o verdadeiro discípulo é amigo de muitos. Seus vínculos de afeto e companheirismo se estendem pela família de sangue, família de fé e família humana.
Intimidade
Intimidade é estar com alguém sem reservas, quando eu posso ser eu mesmo, sem esconder nada, sem máscaras, sem precisar representar para ser aceito.
São o amor e a aceitação que criam o contexto para a intimidade. Um amor sem exigências, sem cobranças, sem críticas. Um amor todo bondade e aceitação. Deus nos propõe Sua intimidade a partir de Seu amor incondicional. E com Ele aprendemos a nos relacionar entre nós, a construir vínculos de intimidade que devolvem a liberdade de sermos nós mesmos, sem precisar de jogos manipulativos para sermos aceitos.
O verdadeiro amor lança fora o medo de sermos rejeitados. Podemos ser nós mesmos, nos vulnerabilizar diante do outro que nos quer bem, mostrar nossas fraquezas e nossas virtudes sem o risco de sermos usados.
É desejo de Deus que tenhamos intimidade com Ele e uns com os outros. Maridos e mulheres, pais e filhos, irmãos na igreja, que se conhecem, se respeitam, se sentem amados, livres para serem eles mesmos, crescendo, amadurecendo e florescendo para a vida num contexto de amor e liberdade.
Na intimidade com Deus e uns com os outros encontramos aquilo que supre em nós a saudade do pertencimento, dos vínculos, dos afetos, a própria razão para a qual fomos criados.
Pluralismo
Na igreja encontramos o diferente, o outro, e onde há diferenças, há distância e conflitos. As muitas diferenças na faixa etária, nos contextos familiares e sociais, nas visões de mundo e nas formas de vivenciar a fé fazem da igreja um agrupamento plural.
Não sabemos muito bem como lidar com as tensões e para evitá-las elegemos líderes que lideram com pulso de ferro, ou elaboramos uma regra de fé e de conduta minuciosa que deve ser aceita e respeitada por todos. Ou então entramos no conflito, e as atitudes rígidas e ressentidas conduzem a uma divisão. Aprender a respeitar e validar as diferenças, encontrar um caminho de resolver os conflitos com tolerância e perdão é o verdadeiro caminho cristão.
A unidade proposta pelas Escrituras encerra um mistério. A Trindade é três, mas é um. Marido e mulher se tornam um, mas continuam sendo dois. Somos um só corpo, mas muitos membros. Significa dizer que nos tornamos um não por simbiose; não nos fundimos no outro perdendo nossa identidade. Ao contrário, o teste sublime desse ministério da unidade é que quanto mais eu sou um com o outro, com Deus, com meu cônjuge, com meu irmão em Cristo, mais eu posso ser eu mesmo e mais o outro é ele mesmo, sem confusão de identidades.