terça-feira, 23 de novembro de 2010

FORÇA PARA VIVER



Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa... O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.

Viver é muito perigoso, dizia Guimarães Rosa pela boca do memorável Riobaldo. A vida tem mesmo seus altos e baixos e, além da dificuldade de saber a direção, falta a cada um a força e a competência de seguir em frente. Os obstáculos se multiplicam. A vida é contingente: cheia de imprevistos e surpresas, boas e ruins. Uma proposta para morar longe, um diagnóstico inesperado, a chegada de um bebê, um assalto, um desmoronamento, o cancelamento do vôo, a festa de aniversário, os amigos ao redor da mesa e a demissão inesperada. Além disso, a doença da mãe, o imposto de renda, as aventuras dos filhos e o sobrepeso, obesidade mesmo, denunciada pelo espelho e pela calça que já não se usa mais. E tem também a teimosia dos vícios, as dores da alma, a insegurança emocional, os conflitos relacionais, a culpa, o medo, a ansiedade e a síndrome do pânico – ai que medo. Tem que arrumar o quarto, buscar a roupa na lavanderia, votar para presidente e superar o divórcio. O show não pode parar. E porque viver é muito perigoso, aprender a viver é imperativo.

Como enfrentar a travessia? Já que navegar é preciso e viver não é preciso, como dizia o poeta português. Viver é necessário. É preciso viver, não há que desistir da vida. Mas viver é perigoso, justamente porque não é preciso – não é exato. Não é possível singrar a vida como quem corta os mares. A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá, disse o Chico brasileiro.

Acho que foi por isso que o sábio Salomão começou a escrever seu Eclesiastes. Queria aprender a viver. Dedicou o coração para saber, inquirir e buscar a sabedoria e a razão das coisas. E concluiu que a verdade está no distante e profundo. A vida é mistério. Viver continuará sendo sempre perigoso.

Então apareceu Jesus. Não negou a contingência da vida, nem iludiu os seus com promessas falsas e fantasiosas. Mas apontou um caminho. Apresentou seu Pai aos homens e os homens ao seu Pai. Autorizou todo mundo a buscar, usar e abusar de seu Pai.

Jesus disse a todos: Chamem pelo Abba. Ele os ouvirá. Falem com ele em meu nome. Batam na porta. Busquem. Peçam. Gritem. Importunem meu Pai, de dia e de noite. A porta se abrirá. Vocês acharão o meu Pai. Vocês receberão respostas. Serão recompensados pela sua busca, jamais ficarão sem galardão. Meu Pai é atento e cuidadoso. Meu Pai é bom. Meu Pai é amor. Não tenham medo dele. Não se escondam dele. Não fujam dele. Corram para os braços dele. Ele cuida de flores e passarinhos. Vai cuidar de vocês. Sigam os meus passos. Foi o que fiz. Fechem a porta do quarto e façam suas orações. Eu atravessei a vida de joelhos. E venci. Eu venci o mundo, eu venci o mal, eu venci a morte. E vocês também poderão vencer. Não desistam. Não tenham medo. Viver é perigoso. Mas a graça do meu Pai é maior que vida.

Pr. Ed René Kivitiz

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Não há fronteiras para uma mulher que ora!



Dora Bomilcar

Especial Lausanne III – Acabando de chegar de Lausanne III e fazendo parte de um ministério de oração (Desperta Débora), pude constatar que a oração impele-nos para a fronteira da vida espiritual.

Ouvindo testemunhos de mulheres vietnamitas, egípcias, coreanas, africanas, bolivianas e tantas outras, pude aprender com elas que a oração por nossos filhos e por nosso país não é um hábito menor anexado à periferia da vida espiritual, é a vida delas. Ao mesmo tempo pedi a Deus para que pudesse transmitir às mamães (Déboras) brasileiras, baseada na palavra de John Piper, que o mais importante a pedir pelos filhos não era, prioritariamente, para que ficassem livres da aids, do sexo ilícito, das drogas, do álcool, mas em primeiro lugar uma mãe deve pedir a conversão de seus filhos. Somos tentadas a entrar em desespero, mas a palavra de salvação em Cristo deve prioritariamente ser pedida e todas as demais coisas serão acrescentadas.

Na sala de oração do Centro de Convenções da Cidade do Cabo, vendo todos os mapas, e os homens e mulheres orando, pude assimilar aquilo que o apóstolo Paulo, com alegria, proclama: “somos cooperadores com Deus”. Estamos trabalhando com Deus para determinar o futuro. Certas mudanças vão acontecer na história, nas nações, em nossas famílias… se orarmos! A oração é uma das armas de Deus fazer a sua vontade.

Em Lausanne III, no meio de tantos testemunhos, vi a compaixão que procede do Senhor, e isso nos incentiva a vida de oração mais disciplinada.

Em certo momento percebi não ter fé suficiente para orar pelos povos não alcançados, pelo sofrimento que outras mulheres têm passado em países fechados para o cristianismo, contudo a iniciativa de orar por alguém já indica a existência de fé suficiente. A quantidade de fé também não é relevante, pois a Bíblia afirma que milagres formidáveis são possíveis se houver fé minúscula como uma semente de mostarda. O poder de Deus é muito maior que a minha fé.

A delegação brasileira, orando em conjunto, formou como gotas de água junto com outros países, um grande oceano de louvor e agradecimentos a Deus.

Voltei de Lausanne III decidida a procurar ter uma vida de oração mais fiel, mais profunda, mais verdadeira e desafiar as Déboras e mulheres do Brasil com esse propósito.

Dora Bomilcar de Andrade é coordenadora regional
São Paulo /Sul do
Movimento Desperta Débora

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Jesus, o Pensador




Publicado em 13 13UTC agosto 13UTC 2010 por forumibab

Já ouvi muita coisa a respeito de Jesus. Jesus é Deus. Jesus é amigo. Jesus é Salvador. Jesus é poderoso. Jesus é amor. Jesus é isso. Jesus é aquilo. Coisas assim a respeito de Jesus eu escuto o tempo todo. Mas apenas uma vez ouvi alguém se referir a Jesus como uma pessoa inteligente. Dallas Willard chamou Jesus de “o lógico”, e criticou aqueles que não conseguem colocar Jesus e a inteligência na mesma frase: como podemos levar Jesus a sério como mestre se, ao entrarmos em nossas áreas de competência técnica ou profissional, precisamos deixá-lo de fora?, pergunta Willard. Mais do que isso, por que temos dificuldades em acreditar que Jesus um pensador que tratou das mesmas questões que Aristóteles, Kant, Heidegger ou Wittgenstein, e o fez com o mesmo rigor metodo-lógico?

Essa é uma questão que sempre me intrigou. Por que colocamos Jesus na prateleira dos temas religiosos e metafísicos e o deixamos de lado quando a discussão é política ou econômica? Por que os terapeutas e psicólogos leem a alma humana a partir de Freud e não a partir de Jesus? De onde veio a ideia que Jesus entendia menos de economia e política do que Karl Marx, Adam Smith, Friedrich Hayek ou John Keynes? Por que os cartazes das universidades estampam Che Guevara como ícone revolucionário enquanto Jesus é tratado como um anglo-europeu afeminado?

Jesus encarou o poder político imperialista, bateu de frente com o poder religioso institucionalizado, confrontou todos os agentes de segregação, preconceito e sectarismo social, incluindo questões de classe, gênero, geração, religião e ideologia, estabeleceu as bases de uma comunidade que atravessou mais de dois mil anos de perseguição e fundamentou toda a cultura do ocidente, inspirou artistas e estadistas, foi e é a força mais poderosa de transformação pessoal e resistência diante das tragédias e da morte. Não obstante tudo isso, parece que tudo quanto se consegue discutir a seu respeito é se era mesmo Deus e Salvador do mundo. Seu lugar é o alto do altar, numa cruz empoeirada para a devoção dominical, ou o colar para levar no pescoço ou pendurar no retrovisor do automóvel a título de amuleto. Sua biografia é classificada ao lado de divindades que nada têm a ver com a periferia das grandes cidades, o exagero do padrão de consumo da sociedade capitalista neoliberal, e os conflitos geopolíticos entre norte desenvolvido e sul emergente, sendo autoridade apenas para questões como vida depois da morte, e nome para ser usado numa carteirada na porta do inferno. Justiça seja feita, nos últimos anos tem sido usado como argumento para abrir porta de emprego e consertar filhos e cônjuges que perderam o juízo. Mas dificilmente a relação Jesus – emprego é estabelecida em termos de reforma fiscal e tributária, taxas de juros, e modelo de desenvolvimento econômico.

O Fórum Cristão de Profissionais quer ser um ambiente para que o microfone nas mãos de Jesus seja usado para tratar de temas próprios da vida antes da morte. Seguros de que a vida depois da morte é prerrogativa do Cristo ressurreto, queremos seguir os passos do Jesus histórico, imitando seu estilo de vida, baseando nossas decisões em seus valores, desenvolvendo relacionamentos marcados por compaixão e solidariedade, promovendo a justiça em todas as instâncias da vida. E não tememos encontrar a cruz ao fim do caminho, pois a cruz já a carregamos enquanto caminhamos.

© Ed René Kivitz