quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A Bíblia contra “idéia dos crentes”

A Bíblia contra “idéia dos crentes”

Apesar de termos cerca de meio milhão de pastores e líderes no Brasil, parece que a maioria deles não entende que o estudo aprofundado da Bíblia é tarefa urgente e indispensável.

Um dos grandes identificadores dos evangélicos, ou do “povo crente”, como dizem alguns, é a sua apreciação pela Bíblia. Houve até mesmo época quando os conhecidos crentes eram chamados de “bíblias”. No entanto, apesar da tradição que vincula os evangélicos à Bíblia, será que essa realidade é verificável? Surpreendentemente, parece que grande parte da tradição evangélica nada tem a ver com o estudo sério das Escrituras.

Muitas idéias e práticas sagradas e supostamente bíblicas têm outras origens: a cultura norte-americana, brasileira, européia, africana etc. Certa ocasião, fiquei atônito quando tentei compartilhar o Evangelho com um homem numa viagem de ônibus. Ele, ao perceber minha linha de pensamento, perguntou: “Você é crente?”. E prosseguiu: “Mas é crente mesmo?”. Confuso, respondi: “Sim”. E, mais do que depressa, ele disse, com firmeza: “Você bebe café?”. Sem entender, respondi afirmativamente, e, então, esboçando largo sorriso, o homem reverberou: “Então não é! Porque o crente que é crente mesmo, nem café bebe!” Perplexo, fiquei a pensar que tipo de Evangelho se divulga em nossos dias! O cristianismo de alguém é avaliado pelo café ingerido?!

Durante muito tempo envolvido com a área da literatura, principalmente a teológica e acadêmica, posso atestar que o tipo de livro menos procurado pelo mercado evangélico chama-se “comentário bíblico”. Apesar de termos cerca de meio milhão de pastores e líderes no Brasil, parece que a maioria deles não entende que o estudo aprofundado da Bíblia é tarefa urgente e indispensável.

Esse distanciamento das Escrituras, presente no meio evangélico, tem facilitado o surgimento de outras tradições, marcadas por idéias e costumes que levam a comunidade para uma outra direção, para longe de uma teologia fundamentada na Bíblia.

Infelizmente – é verdade –, há muita “idéia de crente” que é contra a Palavra de Deus. Não faz tanto tempo assim, numa comunidade cristã ouvi uma multidão aplaudir a seguinte frase enfatizada por um de seus líderes: “Deus precisa de você”. O discurso prosseguiu sugerindo que Deus nada poderia fazer sem a atuação humana. Que tipo de Deus é esse? Pode ser de algum grupo evangélico! Mas não é bíblico! Afinal, como lemos em Atos 10.25 e 26, Deus, por definição, não precisa de nada: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas”.

Em muitos cultos evangélicos é comum ouvir o povo agradecer a Deus por estar reunido na “casa do Senhor”. A idéia particular dos crentes até existe nas Escrituras, só que não no cristianismo do Novo Testamento. Havia um tabernáculo e um templo no Antigo Testamento. Mas Jesus mudou o enfoque, afirmando que Deus não está restrito a templos. A verdade é que Deus não habita no prédio da igreja! Em João 4, amulher samaritana queria saber se Deus dava prioridade a Jerusalém ou a Samaria como “casa de Deus”. Jesus deixa claro que a adoração deve ser em espírito e em verdade (Jo 4.23). O Novo Testamento, ao contrário dos crentes, ensina que a casa de Deus somos nós, onde o Espírito Santo habita. Em 1 Pedro 2.5 descobrimos que somos “as pedras vivas” e “a casa espiritual”.

Outra tradição evangélica, que assusta até descrentes, é que para Deus “não há pecadinho nem pecadão”. Todos os pecados são iguais para Deus! É possível imaginar que um canibal e um pedófilo assassino sejam equiparados a quem não ora sem cessar (1Ts 5.17)? É absurdo! É provável que a má interpretação tenha surgido de Tiago 2.10, que afirma que “quem tropeça num só ponto da lei é culpado de todos”. Na verdade, o texto apenas nos mostra que apenas um pecado é suficiente para nos deixar numa condição de pecadores perante Deus. Como Deus é santo, um simples pecado nos classifica como condenáveis. No entanto, isso não quer dizer que todos os pecados são iguais. Em João 19.11, Jesus diz a Pilatos que aquele que o havia entregado a Pilatos tinha “maior pecado”. O texto é explícito! A própria Bíblia faz diferença entre pecado e abominação (algo detestável, repugnante), como vemos em Levítico 18.22. ERROS “INOFENSIVOS”

No quadro de avisos de alguns templos evangélicos não é difícil encontrar a seguinte frase: “Muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder”. Apesar do impacto do refrão, devemos perguntar: “Onde vemos isso na Bíblia”? Poderíamos fazer um gráfico estatístico e matemático da oração e estabelecer sua performance? É irônico. Jonas, o profeta que foi usado para trazer o despertamento de Nínive, aparentemente não fez nenhuma oração! Deus é soberano! Ele faz como quer. Certamente, muitos irão dizer que nosso padrão deve ser Elias. Jonas é exceção! Voltemos à Bíblia. Desde quando as orações de Elias funcionaram pela quantidade? Jesus criticou a repetição de orações (Mt 6.7), e em Tiago 5, onde Elias é mencionado, sua oração não é “muita”, mas fervorosa (v. 17). O texto enfatiza que a oração que funciona é a de um “justo” (v. 16), e isso não tem a ver com “quantidade”.

Estes são apenas alguns exemplos de tradições evangélicas não fundamentadas nas Escrituras. O problema é que esses erros “inofensivos” acabam nos afastando do que importa e nos levando a perder tempo com coisas desnecessárias e secundárias. Temos a doutrina do sábado, da gravata, do paletó, da unção etc. Corremos o risco de criarmos tradições humanas que tomam o lugar da Palavra de Deus (Mc 7.9). Hoje, quando se fala em cristão evangélico, imaginamos que se trata de uma pessoa sem vícios, que não bebe, não fuma, não dança, não joga etc. Ora, ninguém precisa ser cristão para viver assim. Há ateus que não fumam nem bebem. Isso não é questão de espiritualidade, mas sim de inteligência! Estamos criando uma caricatura do Evangelho. Ao contrário, Deus deseja pessoas salvas por Cristo, misericordiosas, justas, incorruptíveis, dispostas a perdoar e capazes de amar.

Parece que os profetas enfrentaram algo semelhante em sua época. Ainda hoje, as santas palavras de Miquéias ecoam bem alto: “Com que eu poderia comparecer diante do Senhor e curvar-me perante o Deus exaltado? Deveria oferecer holocaustos de bezerros de um ano? Ficaria o Senhor satisfeito com milhares de carneiros, com dez mil ribeiros de azeite? Devo oferecer o meu filho mais velho por causa da minha transgressão, o fruto do meu corpo por causa do pecado que eu cometi? Ele mostrou a você, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige: pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o seu Deus” (Mq 6.6-8–NVI).

Luiz Sayão

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

SEJA ALEGRE

Seja alegre “O homem faz a religião, a religião não faz o homem". E a religião é, de fato, a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que, ou não se encontrou ainda, ou voltou a se perder. [...] A religião é o ópio do povo. A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real”. Estas famosas palavras de Karl Marx em sua obra Crítica da filosofia do direito de Hegel, publicada em 1844, podem ser verdadeiras a respeito da religião, mas são absolutamente falsas a respeito da espiritualidade cristã.

A carta que o apóstolo Paulo escreveu aos cristãos da cidade de Filipos, no ano 62, é um vigoroso testemunho de que existe uma alegria que não se explica por alienação, ilusão ou fuga fantasiosa de uma realidade indesejada e um mundo cruel.Algemado 24 horas a um soldado da guarda de elite de César, numa prisão domiciliar em Roma, aguardava julgamento por ter sido acusado de crimes para os quais a pena era a morte – o que, de fato, mais tarde, acabaria por acontecer, conforme nos diz a tradição da Igreja, que informa que o apóstolo Paulo foi decapitado no ano de 67 d.C., por ordem do Imperador Nero. Paulo, apóstolo, não estava iludido nem confuso, sabia que era prisioneiro por causa de sua fé em Jesus Cristo e que, dificilmente, seria absolvido. Não tinha razões para viver alegre, mas, ainda assim, escreve uma carta em que recomenda a alegria a todos. Qual era, então, o segredo da sua alegria? Warren Wiersbe fez uma leitura original da Carta aos Filipenses [SEJA ALEGRE. Queluz, Portugal: Editora Núcleo], onde apresentou os quatro ladrões da alegria e nos mostrou como podemos capturar e prender cada um deles.

O primeiro ladrão está identificado com a palavra circunstâncias, que podem roubar nossa alegria. Foi Nietzsche quem disse que “somente quem sabe o porquê da vida é capaz de suportar-lhe o como”. E Paulo sabia: “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (1.21), e, por essa razão, me alegro em saber que “as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho” (1.12).As pessoas também podem roubar nossa alegria. Mas não podemos esquecer que nós somos “as pessoas” das outras pessoas. Num mundo em que todo mundo coloca a si mesmo em primeiro lugar, não é estranho que vivamos tantos conflitos.

A sugestão do apóstolo Paulo é simples: todos devemos abandonar o egoísmo e imitar o jeito Cristo de viver (2.3-8).Também as coisas podem roubar a nossa alegria. Os chineses têm um ditado que diz que se você tem alguma coisa que não pode perder, então não é você que tem a coisa, é a coisa que tem você. O apóstolo Paulo recomenda que façamos uma avaliação em busca daquilo pelo que realmente vale a pena viver. Depois de avaliar sua vida concluiu que seus três maiores desejos eram: conhecer a Cristo, experimentar o poder da sua ressurreição e participar dos seus sofrimentos (3.10). Percebeu que, comparadas a Cristo, todas as coisas eram como esterco. Paulo era daqueles sobre quem Jim Eliot afirmou: “Não é tolo nenhum aquele que abre mão do que não pode reter, para ganhar o que não pode perder”.Finalmente, a ansiedade a respeito do futuro pode roubar a nossa alegria.

Paulo recomenda: “Não vivam ansiosos por coisa alguma; antes as suas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os seus pensamentos e sentimentos em Cristo Jesus” (4.6,7). A oração é um caminho de paz e alegria, pois somente quem é capaz de se ajoelhar diante de Deus consegue afirmar: “Posso todas as coisas em Cristo, que me fortalece” (4.13).A carta aos Filipenses não é auto-ajuda barata, que diz ao leitor iludido que tudo vai correr bem e que, ao final, tudo dá sempre certo. Não é uma dose de ópio. É um testemunho de fé. A fé que vence o mundo.

A fé em Jesus Cristo, nosso Senhor.

Em nome de quem a vida vale a pena.